[Diários, 28 de abril de 2005]
Uma jornalista fez-me uma pergunta aparentemente simples: os leitores de jornal prefeririam notícias nas quais os papéis dos bons e maus estariam predeterminados? Uma visão maniqueísta da História estaria a transformar as reportagens em conto de fadas, com seus vilões e mocinhos? E quem seriam os vilões e os mocinhos? Abaixo, minha resposta (revista para este post).
A mídia impressa atual sofre de uma proletarização mental. Ela quer agradar às classes C e D, ainda que seja lida apenas pelas classes A e B que, a princípio, têm interesses culturais diversos daquelas, às quais os editores querem agradar.
Ocorre pouco a pouco um nivelamento mental por baixo de todas as classes, com a fuga das inteligências resistentes (das classes A e B) das mídias impressas para as mídias eletrônicas (território cada vez mais dominado pelas classes C e D), fazendo com que jornais e revistas caminhem para a extinção.
Aqueles que ainda compram jornais e revistas o fazem apenas por um hábito atávico, pois na realidade não encontram mais interesse nas matérias que os jornalistas se esforçam em obter: as pautas imaginadas pelos editores só agradariam aqueles leitores que não têm o poder aquisitivo e, consequentemente, o hábito, de assinar jornais e revistas.
Nesse contexto, o maniqueísmo tem um lugar privilegiado na mídia impressa que persiste. A maioria dos jornalistas considera-se “de esquerda” sem ter nunca lido O capital de Karl Marx nem acompanhado os debates filosóficos entre marxismo, cristianismo e existencialismo ao longo do século XX.
Após a leitura de um que outro manual de divulgação marxista, o esquerdista já acredita dominar “as leis da História”, passando a desprezar os fatos concretos e a ignorar a complexidade dos fenômenos, para imaginar “processos” catalogados. Esse Zé Mané preguiçoso culpa então os “imperialistas” e os “sionistas” pelos males do mundo.
No Brasil, tenham as mídias uma linha editorial de esquerda ou de direita, as análises objetivas de todos os conflitos nacionais e internacionais tendem a ser substituídas pelos contos de fadas esquerdistas, pois o público visado é sempre o das classes C e D (incluindo o público A e B já tornado mentalmente C e D).
E sendo os jornalistas quase sempre esquerdistas dissimulados (nas mídias de direita) ou assumidos (nas mídias de esquerda), os contos de fadas esquerdistas o são mesmo nas mídias direitistas, com mocinhos sempre pobres e terceiro mundistas e vilões sempre ricos e imperialistas.
O sistema político-econômico é uno e sem oposição, desde que a esquerda e a direita se fundiram num conglomerado indistinto. Mas esse conglomerado ainda preserva, para efeito de diversão e consumo das bases políticas e militantes, suas máscaras de mútua oposição intactas.
Infelizmente, Luiz Nazario, você tem razão e sempre soube expressar suas ideias com clareza e eloquência. Abraço, Irene Freudenheim.
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Grato, Irene. Mas isso dá um trabalho medonho e, no Brasil, sem retorno, excetuando um ou outro comentário bondoso, como o seu.
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